segunda-feira, dezembro 18, 2006

As Paixões Humanas

Certo dia as Paixões Humanas se reuniram para brincar.
Depois que o Tédio bocejou três vezes porque a Indecisão não chegava a conclusão nenhuma e a Desconfiança estava tomando conta de todos, a Loucura propôs que brincassem de esconde-esconde. A Curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo, e a Intriga começou a cochichar com os outros, dizendo que certamente alguém iria trapacear.
O Entusiasmo saltou de contentamento e convenceu a Dúvida e a Apatia, ainda sentadas num canto, a entrarem no jogo. A Verdade achou que isso de esconder não estava com nada, a Arrogância fez cara de desdém, pois a idéia não tinha sido dela, e o Medo preferiu não se arriscar: " Ah, gente, vamos deixar tudo como está" , e como sempre perdeu a oportunidade de ser feliz.
A primeira a se esconder foi a Preguiça, deixando-se cair no chão atrás de uma pedra, ali mesmo onde estava. O Otimismo montou um arco-íris, e a Inveja se ocultou com a Hipocrisia, que sorrindo fingidamente atrás de uma árvore estava odiando tudo aquilo.
A Generosidade quase não conseguia se ocultar porque era grande e ainda tinha que abrigar meio mundo, a Timidez ficou paralizada pois já estava mais do que escondida em si mesma, a Sensualidade se estendeu ao sol num lugar bonito e secreto para saborear o que a vida lhe oferecia, porque não era boba nem fingida.
O Egoísmo achou um lugar perfeito, onde não cabia ninguém mais. A Mentira convidou a Inocência para mergulharem no fundo do oceano, onde a inocente acabou afogada, a Paixão meteu-se na cratera de um vulcão ativo, e o Esquecimento já nem sabia o que estavam fazendo ali.
Depois de contar até 99, a Loucura começou a procurar.
Achou um, achou outro, mas ao remexer num arbusto espesso ouviu um gemido: era o AMOR, com olhos furados pelos espinhos. A Loucura o tomou pelos braços e seguiu com ele, espalhando beleza pelo mundo.
Desde então o Amor é cego e a Loucura o acompanha: juntos fazem a vida valer a pena.
Mas isso não é coisa para queixosos, os pulsilânimes e os demais rígidos, ou aqueles para que a felicidade é um bem proibido por deuses severos.
em outras palavras/ Lya Luft
Eu estava no Aeroporto de Congonhas ao ler esse capítulo, e pensando em meu final de semana em São Paulo. Assim, posso ser a prova viva que a Loucura é capaz sim de espalhar beleza, paz e transformar a vida em algo infinitamente melhor...mas o amor não é cego, não nesse sentido. Muitas vezes ele pode ser inesperado, intenso e maravilhoso. Pode fazer coisas que nunca tivemos a ousadia de realizar. Mas nada que eu escreva vai chegar perto de tudo que ele realmente representa ou é capaz de operar em nossas vidas. Transformar, seduzir, maravilhar, arrebatar, lançar encantamento...tudo! Realmente, quero enlouquecer!

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