sexta-feira, setembro 29, 2006

As Mil e Uma Noites...



O rei persa Shariar, vitimado pela infidelidade de sua mulher, mandou matá-la e resolveu passar cada noite com uma esposa diferente, que mandava degolar na manhã seguinte. Recebendo como mulher a Sherazade, esta iniciou um conto que despertou o interesse do rei em ouvir-lhe a continuação na noite seguinte. Sherazade, por artificiosa ligação dos seus contos, conseguiu encantar o monarca por mil e uma noites e foi poupada da morte.
A história conta que, durante três anos, moças eram sacrificadas pelo rei, até que já não havia mais virgens no reino, e o vizir não sabia mais o que fazer para atender o desejo do rei. Foi quando uma de suas filhas, Sherazade, pediu-lhe que a levasse como noiva do rei, pois sabia um estratagema para escapar ao triste fim que a esperava. A princesa, após ser possuída pelo rei, começa a contar a extraordinária "História do Mercador e do Efrit", mas, antes que a manhã rompesse, ela parava seu relato, deixando um clima de suspense, só dando continuidade à narrativa na manhã seguinte. Assim, Sherazade conseguiu sobreviver, graças à sua palavra sábia e à curiosidade do rei. Ao fim desse tempo, ela já havia tido três filhos e, na milésima primeira noite, pede ao rei que a poupe, por amor às crianças. O rei finalmente responde que lhe perdoaria, sobretudo pela dignidade de Sherazade.

Fica então a metáfora traduzida por Sherazade: a liberdade se conquista com o exercício da criatividade.

All Star



All Star
Cássia Eller
Composição: Nando Reis
Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
O sal viria doce para os novos lábios
Colombo procurou as Índias
Mas a terra avisto em você
O som que eu ouço são as gírias do seu vocabulário
Estranho é gostar tanto do seu all star azul
Estranho é pensar que o bairro das Laranjeiras
Satisfeito sorri quando chego ali
E entro no elevador
Aperto o 12 que é o seu andar
Não vejo a hora de te encontrar
E continuar aquela conversa
Que não terminamos ontem
Ficou pra hoje
Estranho mas já me sinto como um velho amigo seu
Seu all star azul combina com meu preto de cano alto
Se o homem já pisou na lua
Como ainda não tenho seu endereço?
O tom que eu canto as minhas músicas pra tua voz
Parece exato
Estranho é gostar tanto do seu all star azul...
Escutei tanto essa música nesta semana...que passou tão rápida! É sempre assim quando temos muitas coisas para fazer. E muitas vezes no meio da correria, temos momentos lindos. Hoje eu tive muitos. Mas guardarei em meu coração.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Celeuma da Beterraba


A cara feia pro prato:
-Eu não quero esse vermelho!
-Nem eu!
-Experimenta...
-É mais ou menos gostoso.
-É doce!
-É mesmo! Quero mais!
Muitas colheradas depois...
-Eu já comia, você quem não fez mais...
-Por que chama beterraba?
-Não faço idéia.
-Beta-caroteno.
-Importante é que faz bem, é gostoso.
Muitas horas depois no banheiro...
-Socorro! Mãe!
-O que foi?!
-Meu cocô tá doente!
-Como??!!
-Olha mãe, tá vermelhinho.
-Ah, é a beterraba.
-Ela fez meu cocô ficar doente?
-Não, ela só deu um colorido...
-Que legal! Vou comer todo dia! Assim ficou mais bonitinho...
-Ah...com certeza...

Paisagem


Havia uma paisagem, pela minha janela num descampado, perto da minha casa. Eu poderia ficar horas olhando para aquela direção. Para variar eu escutava música e olhava pra lá. Pelo canto do olho, junto com meus livros, eu espiava. Como se eu também fosse observada. Era um flerte. Eu sabia no decorrer do ano como tudo se transformaria. A árvore sempre sozinha,mas era a minha preferida. Chegando na casa da minha mãe, tudo mudou muito. Eu também, graças a Deus! Mas num relance eu procurei por ela, mas foi necessário andar muitas quadras para achar minha paisagem. Mas ela estava lá. E senti que poderia ter ela dentro de mim a qualquer momento,pois tudo que amo, não some, não menosprezo e não esqueço. Uma hora ou outra eu vou de encontro. É tão bom reencontrar, aquilo que se ama.

Mágoa


Vinha trazendo no coração uma mágoa antiga que só fazia doer. Não sabia o que fazer com ela. E como apertava... E como doía... Ficava ela ali no canto esquerdo, bem quieta. Dava os ares de sua graça nas horas mais impensáveis. E como manchava... E como mexia... Pulava no peito como bola desgovernada que desce a ladeira sem olhar para os lados. Queria esquecê-la. Queria traí-la. Trancá-la lá fora sem pena da chuva. Deixando-a molhar como pano de porta, que sem borda aos poucos se encharca. Queria poder juntá-la com as mãos e com desespero de marujo perdido, arrancá-la para fora do barco. Deixá-la à deriva em companhia das ondas. Ela que se salvasse. Que se afogasse lentamente na imensidão fria dos mares. De longe eu acenaria em meu iate invencível, lamentando por não ter feito isso há mais tempo. Feliz por ter extirpado todo o tumor. Chegaria em casa tranqüila, talvez cansada da viagem. Tomaria uma Novalgina e iria cheia de graça pra cama. Sonharia com cores impossíveis e palavras ainda perdidas. Acordaria plena. Descansada. Completamente feliz. Escreveria meus versos roubados do invisível e ouviria os sons capturados do mundo. Prosseguiria vivendo a procura do irreal e do permitido. E seria feliz se não fosse a falta que se alojaria no peito clamando pela mágoa uma vez perdida, a reclamar junto com a lua sua ausência.
Alice Ventura

quarta-feira, setembro 27, 2006

Parada Cardíaca

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem quem segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.
Paulo Leminski

Humor do mal


Não sei de onde veio tanta marra hoje...mal humor puro. Nem tenho vontade de conversar, pois eu iria reclamar de tudo. Tenho muito para fazer, poderia estar "aproveitando" o tempo. Mas sinto que preciso de um fôlego, parar um pouquinho e aprender que não devo querer abraçar o mundo de uma só vez.

segunda-feira, setembro 25, 2006

O chamado de Samara...


Eu sou corajosa. Sempre assisti os filmes de terror sem problemas de dormir depois. Até a Samara aparecer na tela...Essa figura estragou todo o meu desejo de querer assistir filmes de suspense ou terror. Foi pura falta de sorte.
Por um momento do filme eu até pensei que ela fosse do bem, tadinha...mas não é que a pentelhinha queria mesmo é vingar-se de todo mundo?!
Tudo bem. Mas o terror veio depois...
Eu virava na cama...e via a Samara. Fechava os olhos...e lá estava a Samara. Dormi e quase tive um troço, ela assombrando de novo! Bom, por fim resolvi, meio sem jeito rezar pra essa pobre alma penada ficar em paz. Pra ter a certeza que não ia ter recaída assisti O Chamado 2, sozinha, no escuro e tarde da noite. Resultado patético, na hora que a Samara apareceu, desliguei a tv e saí correndo...bem corajosa. Enfiei a cabeça embaixo do edredon, e decidi...Samara vai assustar outra!

sexta-feira, setembro 22, 2006

Pegadas pela casa

Havia acabado de limpar a cozinha. Aquele cheirinho bom de limpeza. O sonho dourado da Dona de Casa! Ver tudo muito arrumado, cheiroso e enfeitado. Então,como merecido prêmio, um bom banho para relaxar...
Eis que ao retornar, reparo na sala vestígios de bagunça,desordem e ... pegadas no chão!
Fui seguindo, já ouvindo as risadinhas que vinham da área de serviço:
- Não adianta esconder! Eu já vi o que vocês fizeram! Venham aqui!
Então, com as carinhas mais levadas do mundo:
-Mãe! Você viu as "pisadas" que a gente deixou?!
-Sim, eu vi. Desde de lá da sala.Por que fizeram isso?
-Ah, mãe! Era pra ficar mais fácil pra você encontrar a gente...
Eu tive que rir. Mas não deixei de levar meus gênios da bagunça pra ajudarem a tirar as pegadas...

Wonderwall


Se eu fosse colocar uma trilha sonora no meu dia seria esta música do Oasis. Gosto muito de ouví-la, e no dia de hoje escutei sentindo uma culpa tremenda de ter perdido as estribeiras.
E não é que pensando bem...

"I said maybe
You're gonna be the one that saves me,
that saves me... that saves me..."

quarta-feira, setembro 20, 2006

Um lugar especial


A simplicidade deste lugar muitas vezes não revela, num primeiro momento o quanto pode ser especial.
Recebi das mãos de uma grande amiga a incumbência de coordenar este local. A princípio pensei que seria impossível, que não conseguiria dar continuidade ao lindo trabalho que ela começou. Mas aceitei, muito incentivada por todos que acompanham meu trabalho na outra escola. Então, foi um choque, lidar com a falta, com a ausência, o abandono, o abuso, com o despreparo das pessoas e o medo do novo. Hoje vejo como tudo isso tem uma proporção mínima, muito restrita de tudo que envolve este lugar. Escuto as crianças rindo, fazendo bagunça no parque, a sala com os livros na mesa, os jogos coloridos e uma paz indescritível ao entrar em cada lugar. Os problemas existem, no entanto vejo o quanto evoluimos como pessoas, quantas coisas superamos e como somos importantes na vida de cada um. E meu trabalho?Como é interessante! Escutar as pessoas, ter sensibilidade e firmesa na tomada de atitudes, contornar situações adversas, arejar as mentes mais fechadas,resolver os conflitos e vaidades internas e ter muito, muito compromisso com as crianças. E pedir ajuda, saber que não é possível abraçar o mundo, e com humildade é possível crescer muito mais. Precisamos de voluntários sempre, de pessoas que tenham compromisso e disposição para doar-se. Desde que comecei trabalhar neste local,sinto que é possível amar as pessoas muito mais pelas atitudes, pela maneira dedicada e caridosa de cada pessoa ao dispor seu tempo à uma boa causa, um bom combate. Espero ter mais voluntários que saibam o valor de um sorriso, um abraço ou um olhar de uma criança. É só começar...

Irmãs ...quase gêmeas!!! E duras de aguentar.


É difícil para os pobres mortais terem o prazer de participar de um diálogo conosco, pois com mentes tão brilhantes quanto as nossas, impossível entender o que estamos debatendo. Isso porque sabemos nos comunicar de maneira muito peculiar e até engraçada,daquele jeito em que só os grandes companheiros de jornada se comunicam...com sentimento, com a alma, olhares e até pensamentos. É claro que nem sempre é poético, por que é cômico, atrapalhado, e quando eu estou de mal humor coloco um escudo invisível que nada consegue penetrar!!Nem mesmo a nossa parceria de alegrias, trapalhadas, pensamentos, de partilhar momentos tão bons fazem abrir a guarda. Normal, afinal a individualidade é sempre uma conquista em casos assim. Mas sei que posso contar com a Vi, que estarei sempre correndo pro colo dela quando tudo estiver tão enrolado e confuso, pois ela e a Si são muito mais que amigas e irmãs, são quase uma extensão de mim e é por isso que eu as amo tanto!
De todas as nossas trapalhadas, tem uma que é campeã:
Estávamos na Pernambucanas, e era uma época que nos parecíamos muito, mesmo corte de cabelo, mesmo tipo de roupa, mesma altura e peso. Quando eu olho, a Vi conversando com o espelho achando que era eu! Pode?!
O pior era quando as pessoas começavam a conversar comigo, ou com ela, e numa certa altura da conversa a revelação que não era quem a pessoa estava achando que fosse. Muitas vezes isso aconteceu. Hoje mudamos um pouquinho,mas é bom lembrar que nas trapalhadas, eu tenho uma companheira e tanto!

domingo, setembro 17, 2006

Curiosidade premiada


Desde criança eu passava em frente desta casa, que fica na região central de Campo Grande, na Av. Mato Grosso, e ficava com tanta vontade de entrar dentro dela, conhecê-la em cada detalhe, que chegava em sonhar que estava explorando-a. Cada dia, imaginava uma peça. Eu imaginava ela toda restaurada,com um jardim bonito e entristecia-me ao vê-la abandonada. No início do ano, colocaram um tapume bem alto, pensei comigo que iriam demolir a pobrezinha. Mas acredite, a prefeitura irá transformá-la num centro cultural. Fizeram uma reportagem na tv, mostrando como ela estava por dentro. Para minha surpresa, muitas peças corresponderam à minha imaginação. Seu porão, um tanto tenebroso, guardava salas secretas, uma neura do antigo proprietário. O piso, as janelas, o quintal e o jardim dos fundos... tudo de bandeja para eu ver antes da reforma. Agora, minha curiosidade foi premiada e eu terei a oportunidade de visitá-la toda revitalizada, quantas vezes me der na telha. E com certeza serão várias!

Análise política de Jonas


Enquanto a família discutia sobre as eleições, alguém falava sobre o nosso presidente Lula. Jonas, apenas dois anos de idade faz a análise mais acertada:
- Lula não! Bob Esponja...
O menino sabe das coisas.

sábado, setembro 16, 2006

Segredos




Eu procuro um amor
que ainda não encontrei
diferentes de todos que amei
Nos teu olhos quero descobrir
uma razão para viver
e as feridas dessa vida
eu quero esquecer
Pode ser que eu a encontre
numa fila de cinema
numa esquina ou numa mesa de bar
Procuro um amor
que seja bom pra mim
vou procurar, eu vou até o fim
E eu vou tratá-la bem
pra que ela não tenha medo
quando começar a conhecer
a conhecer os meus segredos

Eu procuro um amor
uma razão para viver
e as feridas dessa vida
eu quero esquecer
Pode ser que eu gagueje
sem saber o que falar
mas eu disfarço
e não saio dem ela de lá.
Frejat

Fiquei durante muito tempo refletindo... Como está difícil manter ou iniciar os relacionamentos verdadeiros. Tudo porque a confiança, o respeito e os sentimentos mais ternos andam esquecidos. Mas penso que persistir vale a pena. Tenho meus momentos de achar que não dá, que não é assim que eu quero e pensar o tanto que sou infeliz. E idealizo muito, me frustro. Passo algum tempo deprimida, mas aos poucos mudo o foco. Às vezes sentir que você quer viver um amor de um conto fantástico faz apenas uma nuvem bem negra surgir no coração e não se consegue enxergar as possibilidades. Enquanto houver uma, eu estarei buscando de algum modo ser feliz, pois eu vim para esta vida com esse propósito, ser feliz e dar aos que me cercam o melhor de mim, (e muitas vezes o pior, pois sendo humano, isto é inevitável). Ter consciência disso tudo já é alguma coisa. Ah...mas no dia de hoje eu torço para os encontros, os reencontros e os amores possíveis. Ter a chance de viver um grande amor...Puxa vida, como seria maravilhoso isso ser mais comum e de livre acesso aos que eu considero verdadeiros amigos, em meu coração...












O nascimento de Isabela


Acabei de chegar da maternidade. Fui conhecer Isabela. Ela nasceu ontem, às 15h. Começou muito bem, a obediência em pessoa! Sua mãe, minha amiga Fernanda está ótima com um sorrisão que dá gosto e o pai, babão, Gil encantado com tanta beleza. Gabi está brincando com as amigas, louca pra que sua mãe volte com sua irmãzinha para casa. Bom, este é um começo. Uma vida linda pela frente. Desejo que seu caminho seja belo e muito iluminado...

segunda-feira, setembro 11, 2006

Imagine




Imagine there's no heaven,
It's easy if you try,
No hell below us,
Above us only sky,
Imagine all the people
living for today...
Imagine there's no countries,
It isn't hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the peopleliving life in peace...
Imagine no possessions,
I wonder if you can,
No need for greed or hunger,
A brotherhood of men,
imagine all the people
Sharing all the world...
You may say I'm a dreamer,
but Im not the only one,
I hope some day you'll join us,
And the world will live as one

Imagine que não exista paraíso,
É fácil se você tentar.
Nenhum inferno abaixo de nós,
Sobre nós apenas o céu.
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje...
Imagine que não existam países,
Não é difícil de fazer,
Nada porque matar ou morrer,
Nenhuma religião também.
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz...
Imagine nenhuma propriedade,
Eu me admiro se você conseguir.
Nenhuma necessidade de ganância ou fome,
Uma fraternidade de homens.
Imagine todas as pessoas
Compartilhando o mundo todo.
Você pode dizer que sou sonhador,
Mas eu não sou o único.
Eu espero que algum dia você se junte a nós,
E o mundo viverá como um só.
John Lennon
Pode não ser tão criativo, na contra capa do livro de Ivan Sant'Anna, Plano de Ataque, ele colocou Imagine, um hino do paz e amor... Saber que quando assistia ao vivo, pensava atordoada,que mundo é esse que eu trouxe meus filhos?! O Pedro estava no meu seio, e eu olhava para ele e a Isadora... tantos temores. Mas por um tempo, foi me dando uma agonia sem fim, e as pessoas que trabalham ali??? Meu Deus! É cruel... Os anos passam e a lição fica:
Faça tudo ao seu alcance para que nenhuma idéia, crença ou riqueza material valha mais que uma vida...

domingo, setembro 10, 2006

Receita pra lavar palavra suja

Receita pra lavar palavra suja
Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza. Por exemplo a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar
e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tira sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas
soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura,
que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer
é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente
sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo,
a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo,
sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode,
o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,
produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie
pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite,
não a seu lado mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne,
prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais
perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Viviane Mosé

Momento passional





Sem muitas palavras, sem nenhum altruísmo...
Tatiana, eu te odeio!

sábado, setembro 09, 2006

O pequeno príncipe e a raposa




E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer “cativar”?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos d uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
...Mas a raposa voltou a sua idéia.
- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
E a raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mau-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos...
... Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! Disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.
Foi o principezinho rever as rosas:
- Vós não sois absolutamente iguais a minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém. Sois como era minha raposa. Era uma igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Agora ela é única no mundo.
E as rosas estavam desapontadas.
- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é porém mais importante que vós todas, pois foi a ela que eu reguei. Foi a ela que pus sob uma redoma. Foi a ela que eu abriguei com o paravento. Foi dela que eu matei as larvas ( exceto duas ou três borboletas). Foi a ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
- Adeus, disse ele...
- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
-Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
-Foi o tempo que perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não deve esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...
- eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

Sinto-me responsável por todos aqueles que eu cativei, ou que me cativaram. Isso é fácil? Não. Por vezes deixo de cuidar bem de cada um, com carinho e atenção que merecem. Mas cada amigo é para mim algo inestimável. É a grande oportunidade de aprender e de crescer como pessoa.Há pessoas que são um equívoco, que talvez eu não soubesse cativar, ou que talvez eu reconhecesse nelas as minhas fraquezas e defeitos, e sendo assim eu descartei, deixei de lado de uma vez. Outras o tempo e espaço separaram, mas são como o trigo para mim, uma simples recordação me remete aos bons momentos juntos.Eu amo todos que me cercam. Gostaria que todos soubessem, caso eu não tenha dito. As palavras, às vezes ficam travadas em nossa garganta, simplesmente não saem. Mas quando me encontrar, saiba que é com um grande abraço que retribuirei tua amizade.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Eclipse


Um dos fenômenos que eu mais admiro é o eclipse. Não tem nada de tão especial, é algo muito simples. Mas meus sentidos vão bem além do que podemos apreciar nessa imagem em Amã, na Jordânia. Aquela sombra que vem chegando, encobrindo a Lua me dá a sensação de todo o mau humor, de todos sentimentos ruins que podemos ter numa fração de segundos e assim, inevitávelmente, ofuscam nossa vida. Muitas vezes perdemos o brilho, a vontade de reagir diante tantas coisas que nos aborrecem. Nem sempre é possível aceitar tudo e todos. Nem sempre é possível ter esperança de que as coisas mudem rependinamente ao nosso favor. Então, você se encolhe. Deixa as sombras passarem...e percebe que pode fazer muito melhor do que antes. Que pode aprender a ser mais humilde, menos egoísta e atento aos seus sentimentos. Meu eclipse pessoal está passando. Nesta existência terei muitos, muitos outros. Mas cada um deixa um aprendizado. E volto com mais amor a tudo aquilo que estimo e acredito.

"Tenho fases como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho fases de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu inevitável fuso!
Não me encontro com ninguém
( tenho fases como a Lua...)
No dia de alguém ser meu
não é o dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."
Cecíla Meireles

segunda-feira, setembro 04, 2006

Ouvir estrelas

Ora (direis) ouvir estrelas!
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,
Que para ouví-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora:" Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
Eu vos direi:"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
Olavo Bilac
Deu um trabalho danado, mas consegui começar o trabalho sobre o Universo. Tudo culpa de Plutão que não é mais planeta! Minha amiga Fer ficou deprimida: "Onde já se viu mudarem as coisas assim! E meu mapa astral! Meu ascendente! " Como não creio muito nisso tudo, pra mim só deu mão de obra, os livros, pensa tudo com conceito antigo. Antigo? Duas semanas! Tudo tão rápido...Tudo muda tão rápido. As informações ultimamente já vem com um sabor antigo, parece que nada é tão novidade. Na sala de professores então é um bombardeio de informações. Mas é muito bom. Eu amo trabalhar no sábado de planejamento, porque dá pra encontrar todo mundo. Por mais que tenha a habitual "comida de rabo", sempre sobra o bom humor dos meus colegas, companheirismo e sensibilidade de ouvir um ao outro. Cada figura que aparece! Tem uns que você tem que aproximar-se com mais cuidado, são criteriosos e um tanto explosivos de vez enquando. Outros, ou melhor, outras eu tenho em meu coração como fizessem parte de mim, são meus maiores e mais preciosos tesouros, que conquistei com muito carinho. São minhas estrelas...admiro-as, escuto e sei que podem me ouvir sempre que minha vida estiver muito sem graça, conturbada ou fora do eixo. Mas o melhor mesmo é festejar tudo que podemos ser enquanto um grupo. Afinal, nossa profissão vive num limite tênue, de emoções intensas em sala de aula. Trabalhamos com o conhecimento, com as personalidades ( quantas!) e acima de tudo com pessoas em formação. Por isso quando vejo um levantando o astral do outro, buscando ajudar a superar os momentos difíceis e na busca incansável de dar o melhor de si, fico orgulhosa e feliz de estar nesta profissão, linda e muito importante para toda a sociedade. Não tolero reclamações...quem faz as escolhas somos nós, quem tem um caminho mais difícil é porque assim o escolheu. O dia que eu levantar de minha cama e pensar: "Não quero mais..." eu mudo de rumo. Não dá pra ser pela metade. Não num canteiro de estrelas.


domingo, setembro 03, 2006

Rapidinhas do Pedro


No carro.
Isadora num momento reflexivo:
-Quando eu crescer, vou ser dentista!
Pedro:
-Ah, quando eu crescer...( silêncio), vou ser Power Ranger Verde!

Sinais de Fogo

"Quando você me vê eu vejo acender
Outra vez aquela chama
Então pra que se esconder
Você deve saber o quanto me ama...
Que distancia vai guardar nossa saudade
Que lugar vou te encontrar de novo
Fazer sinais de fogo
Pra você me ver...
Quando eu te vi, que te conheci
Não quis acreditar na solidão
E nem demais em nós dois
Pra não encanar...
Eu me arrumo, eu me enfeito, eu me ajeito
Eu interrogo meu espelho
Espelho que eu me olho
Pra você me ver...
Porque você não olha cara a cara
Fica nesse passa não passa
O que te falta é coragem...
Foi atrás de mim na Guanabara
Eu te procurando pela Lapa
Nós perdemos a viagem..."

Que final de semana! Sem comentários, fui do inferno ao céu...Prefiro a segunda opção.
Nada como o poder da sedução pra fazer as coisas melhorarem...

sábado, setembro 02, 2006

O grito



Manter a calma, sempre foi algo que o fiz com naturalidade. Ultimamente, não. E isso é muito bom. Você não tolerar que desrespeitem sua opinião ou que te façam uma ofensa sem uma devida reação. Mesmo que tenha o cuidado de não exceder, você acaba o fazendo e colocando outras pessoas numa situação pouco confortável. No meu caso, quem me ama, torcia para que isso viesse a acontecer. Então é mais fácil, com uma torcida organizada! E assim a calma dá lugar ao grito, ao desabafo, a despejar pra fora tudo oque faz mal, que não deve ser levado no coração...A mágoa é um sentimento muito contaminante, se você deixa ela por aí, sem nenhum cuidado ela mancha tudo ao redor, não fica nada sem uma pontinha de mágoa. E seu sorriso e seu falar fica pela metade. É um caminho sem volta, bem mais honesto comigo mesma.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Noite Estrelada


Uma noite na solidão da casa não me fará mal. Vou olhar as estrelas que brilham ao meu redor. Tenho as amizades de todas as horas, tenho as músicas que embalam meus pensamentos, tenho aos livros que eu viajo...que chato, eu não quero nada disso. Queria apenas uma companhia.
Numa noite estrelada.